A corrida tem muitos benefícios para a saúde e a mente, a ajuda a equilibrar a vida e superar obstáculos, como o tabagismo.

Quer (mesmo) parar de fumar? Correr ajuda e muito!

Especial – Márcio Dederich – Setembro de 2007 - Revista Contra-Relógio

Criar e manter bons hábitos costuma exigir dedicação durante grande parte da vida; dependendo do vício, não abandonar os ruins significa correr o sério risco de desperdiçá-la por inteiro. No caso de quem quer parar de fumar, por exemplo, tem sempre uma voz lá dentro dizendo o quão prazeroso é o cigarro e outra gritando que ele faz mal à saúde. Virar o jogo não é tarefa fácil. Mas está longe de ser impossível. Marcada por recaídas e fracassos, a verdadeira virada só acontece quando o cérebro percebe que terá lucro, que haverá uma boa recompensa. É exatamente nesse aspecto que as corridas ajudam.

O consumo de tabaco é um hábito fortemente arraigado ao cotidiano de mais de um terço dos habitantes do planeta. Originário das Américas e introduzido na Europa após os grandes descobrimentos luso-espanhóis, foi cultuado durante os séculos 18 e 19 e reprimido de forma mais intensa e sistemática a partir da segunda metade do século 20. A causa da perseguição? Fumar abrevia a vida. Fumar mata.

O tabagismo é reconhecido como a principal causa de morte evitável em todo o mundo. No Brasil, enquanto pesquisas recentes dão conta que 25% da população acima de 18 anos fuma (o número vem caindo ultimamente), as estatísticas mostram que metade desse contingente morrerá por doença relacionada ao hábito adquirido.

Exceto pela parcela da população que vive nos cafundós da civilização, todo fumante tem noção bastante precisa do risco que corre quando resolve dar suas baforadas. Abandonar o vício, ao contrário do que se costuma pensar, não é apenas questão de força de vontade. O hábito de fumar é mantido por fatores físicos, comportamentais, cognitivos, emocionais e até mesmo motivacionais. Romper as amarras é tarefa dura. Mas as corridas podem ajudar. E muito.

Mudança de hábito

O cigarro possui milhares de substâncias catalogadas como nocivas ao organismo humano. Responsável por criar o vício, a nicotina é apenas uma delas. Absorvida nos pulmões vai para o coração e, via sangue arterial, espalha-se velozmente pelo corpo. Entre seis e dez segundos alcança o cérebro, passando a atuar nos receptores ligados às sensações de prazer. Ao provocar dependência química, transforma-se no maior obstáculo para quem deseja interromper o vício.

Acostumado a funcionar sob estímulo da droga, quando o fornecimento de nicotina é interrompido o cérebro se vê obrigado a adaptar-se à nova realidade. Nesse processo de adaptação o indivíduo sofre os efeitos da chamada crise de abstinência. Dores de cabeça, alterações no sono, no apetite e no humor, náuseas, irritabilidade, tonteira, sudorese fria e depressão poderão fazê-lo desistir rapidamente da idéia. “A boa notícia é que esses sintomas costumam durar apenas algumas semanas e podem ser aliviados com intervenções medicamentosas ou, de forma alternativa, através da prática de exercícios físicos, especialmente os de intensidade moderada ou alta, como as corridas”, diz a psicóloga Aline Sardinha.

Formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), atuando na área da Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia e tendo diversos trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais, Aline, que também é corredora, considera mais tranqüilo e com maiores chances de sucesso os processos de parada que incluam alguma atividade física. Segundo ela, além dos conhecidos efeitos sobre o sistema ósteo-muscular, respiratório e cardiovascular, os exercícios físicos também atuam no sistema nervoso, especialmente no cérebro, produzindo mudança nos níveis de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina.

 “No caso, correr ajuda o cérebro a restabelecer o nível dos neurotransmissores que foram ‘desorganizados’ pela retirada da nicotina, aliviando tanto a intensidade como a duração dos sintomas sentidos durante a crise de abstinência, o que reduz as chances de recaídas nesse período, reconhecidamente a fase mais crítica de todo o processo. A corrida faz isso ao mesmo tempo em que atua nos centros cerebrais responsáveis pela regularização do apetite e do sono, o que acaba trazendo vantagens extras para quem deseja largar o cigarro”, esclarece Aline.

reprodução autorizada por Editora Contra-Relógio
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